Brasileiras marcam presença no mundo dos vinhos de Portugal
Na formação, passando pela produção e na atuação como sommelières, as mulheres brasileiras buscam destaque no universo dos vinhos de Portugal

Mulheres brasileiras atuam em vários segmentos do vinho em Portugal. Crédito: Pixabay
Tal como ocorreu na França, com Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin, a Veuve Cliquot, dama do Champagne, Portugal também teve a sua precursora na presença feminina no mundo dos vinhos: Dona Antônia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha da Casa Ferreirinha, famosa por seu vinho do Porto.
Graças a essas e outras mulheres que desafiaram o poderio masculino no mundo de Baco, hoje elas marcam casa vez mais presença no universo vínico, da produção à apresentação do produto aos apreciadores da bebida.
É o caso do time de brasileiras que, para além de marcar presença em um cenário outrora tão masculino, também se posicionam enquanto imigrantes.
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A educadora, consultora e produtora brasileira Andressa Noitel, em Portugal desde 2017, escolheu o Algarve para expandir sua carreira no setor, .em uma zona onde a produção ainda é discreta em comparação com zonas de mais tradição, como Douro, Dão ou Lisboa.

Formada sommelière pela Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABS-SP) e com certificações da Wine & Spirit Education Trust (WSET), ela abriu a Eviva Wine School, em Portimão, com o sonho de unir conhecimento técnico e paixão pelo vinho, em um região onde detectou carência de formação especializada, tanto para profissionais quanto para entusiastas.
“Comecei oferecendo cursos presenciais, workshops e formações para equipas de restaurantes e hotéis. Nestes anos de estrada, a escola cresceu, ganhou reputação e já formou mais de 500 alunos em cursos presenciais e online”, festeja.
O conhecimento e o espírito empreendedor de Andressa também a leva a outros campos de atuação no universo vínico. “Como consultora, ajudo restaurantes e lojas na construção de cartas de vinhos e na formação de equipes. Como sommelier certificada, participo como juíza em concursos como o Portugal Wine Trophy (DWM) e o Concurso de Vinhos do Algarve”, diz.
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Outro campo de atuação, que faz parte do desejo de tornar o vinho algarvio mais conhecido é no enoturismo. “Realizo experiências como a Monchique Wine Experience, que une vinho, natureza e vivências sensoriais”.
Há três anos, ela deu início a uma nova empreitada, como produtora de vinhos. Mas, desta vez, decidiu subir à Beira Interior, para lançar seu projeto autoral de vinho.
“A Jóia da Montanha é um projeto de vinhos com baixa intervenção, produzido de vinhas velhas com mais de 45 anos e muito respeito ao terroir. Com esse vinho, fecho um ciclo de formação, paixão e entrega ao universo dos vinhos portugueses”.

Na produção
Por falar em produção de vinho, é necessário referenciar pelo menos três mulheres brasileiras que seguem esse caminho em Portugal. Também no Dão, Juliana Kelman toca o projeto dos vinhos Kelman, em Nelas, cujas primeiras garrafas saíram há dez anos.

“Quando cheguei, a pessoas acharam curioso uma carioca se instalar ali e começar a produzir. Mas quando perceberam a seriedade do projeto e o acolhimento à mão de obra qualificada da região”, diz.
No Douro, Bianca Vianna comanda o projeto da Quinta do Vianna e faz questão de transitar entre as vinhas e acompanhar todo o processo produtivo. “Reconheço a importância de estar envolvida no dia a dia, de viver a produção do vinho em todas as etapas”.

Outra empreendedora brasileira no mundo dos vinhos portugueses é Fernanda Zuccaro, à frente da Quinta Alta, também no Douro, que iniciou o projeto a partir da paixão pelo vinho. “Sou uma produtora raiz, que respeita o terroir e as uvas com padrão e respeito, mas uma dose de ousadia. Agradeço todos os dias por ter sido acolhida pelo Douro”.

Na apresentação
Foi na ponta final da cadeia, mais precisamente no contato direto com o consumidor final, que a sommelière pernambucana Bruna Vieira, que se encantou pelo universo dos vinhos em 2013, quando trabalhava em cruzeiros.

Hoje, formada pela Wine & Spirit Education Trust (WSET), ela é uma das sommeliers do hotel Palácio Ludovice Wine Experience Hotel, no Príncipe Real, um reduto vínico no centro de Lisboa com degustações quase que diárias, onde Bruna costuma apresentar todo o seu conhecimento sobre vinhos, especialmente portugueses, o foco do trabalho realizado no hotel.
“Meu trabalho consiste em montar as provas de vinho, para apresentar o que há de melhor especialmente em Portugal, e fazer os pairings (harmonizações) durante o jantar no Federico (restaurante do hotel)”, explica.
Nesse processo, mais do que o repertório de mais de dez anos de trânsito no universo vínico, Bruna precisa dar atenção aos pratos selecionados pelo chef Ricardo Simões. “Também cuido da compra de vinhos e reposição da adega”.
Apesar de todo o conhecimento acumulado e constantemente acumulado, Bruna diz que as mulheres, especialmente no papel de sommelières, precisam colocar “muita pressão” no serviço para ter credibilidade e conquistar e manter espaços é uma luta diária.
“Muitas vezes as críticas e os maus olhares recaem em cima de mulheres e não em cima de homens, que também cometem erros, mas raramente são penalizados por isso. Enquanto mulheres, não importa ter qualificação, não importa ter anos de trabalho, você precisa se provar diariamente para que as pessoas confiem no que você faz”.
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