Hermés Galvão lança crônicas afiadas sobre o Rio de Janeiro
Em "A sangue quente – crônicas cariocas", escritor retrata com humor e crítica os personagens e contradições do Rio

“O humor é uma forma de organizar a tristeza e resistir ao caos”, diz Hermés sobre o tom sarcástico do livro. Crédito: Divulgação.
O Rio de Janeiro é um eterno personagem. Às vezes, é galã de novela; outras, manchete de jornal. E agora, é também o protagonista de A sangue quente – crônicas cariocas, novo livro do escritor e psicoterapeuta Hermés Galvão.
A obra, lançada recentemente no Brasil e em Portugal pela editora Labrador, reúne 128 páginas de crônicas afiadas, sarcásticas e deliciosamente cariocas no melhor e no pior sentido.
O escritor faz um retrato ácido e bem-humorado da alma do Rio, misturando crítica social com risos soltos e personagens que parecem saídos direto do calçadão de Ipanema. O livro é um convite divertido para entender — ou pelo menos tentar — o caos encantador da cidade maravilhosa.
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Galvão, que já assinou o divertido Como Viajar Sozinho em Tempos de Crise Financeira e Existencial e a biografia Granado 150 Anos, mergulha nas particularidades do estilo de vida carioca.
O resultado? Um desfile de tipos conhecidos por quem já pisou na Zona Sul: a perua fitness que usa legging como armadura, o tiozão que acha que ainda tem vinte anos, o ator com projeto “inacreditável” esperando um convite que nunca vem e os gurus, que até ontem eram mais LSD do que namastê.
“A alma da cidade surge na forma que considero a cara do Rio: leve, debochada e cheia de marra”, diz o autor.
E é justamente esse tom que sustenta o livro: um olhar crítico, porém bem-humorado, sobre uma cidade onde rir é, muitas vezes, uma forma de resistência.

Para o autor, o humor é mais que ferramenta literária e sim uma tábua de salvação: “Sem humor, não existe esperança. É com humor que a gente defende a alegria e organiza a tristeza”, afirma.
Ao tratar temas espinhosos com leveza, ele acredita que a crítica social ganha mais força: “A ironia desmonta o peso das injustiças e revela o absurdo. Sem humor, a crítica vira sermão. Com humor, ela provoca riso antes de provocar incômodo e é nesse riso que mora a consciência”, completa.
Apesar de carioca da gema, nascido em 1975, Galvão fala com naturalidade do cenário português, onde também vive. E foi aqui, em terras lusas, que A sangue quente ganhou nova vida.
A recepção, segundo ele, é curiosa pois muitos portugueses ainda conhecem o Rio apenas pelas telenovelas ou, mais recentemente, pelos noticiários:
“Hoje, o que define a imagem do Rio são os noticiários, e a TV europeia costuma ser eurocêntrica, preconceituosa e limitada nesse olhar. Só que a alma do carioca, como a de qualquer povo, não cabe nesse recorte. Ela exige profundidade, curiosidade, disponibilidade e não um olhar viciado. Não tem segredo, mas carrega mistério”, diz ele.

E se a pergunta é o que há de melhor no Rio, a resposta vem com aquele misto de orgulho e perplexidade que só um carioca consegue verbalizar:
“Apesar da violência, do descaso, das crises… ainda existe uma vitalidade que não morre. O carioca ri quando não tem motivo, improvisa quando não tem saída. É leve, mas não superficial. É uma escolha de não deixar o peso esmagar”.
Sobre o melhor de Lisboa, sua cidade atual, o autor diz: “A luz, a mistura de brasileiros e africanos, os velhotes fofos que não reclamam da vida e, claro, a proximidade com Espanha e Marrocos”.
Se você já riu da própria desgraça, reclamou do calor e jurou nunca mais ir à praia no fim de semana (mas foi), este livro é para você. Carioca ou não, vai se ver ou reconhecer um conhecido entre as páginas quentes de Hermés Galvão.
A sangue quente – crônicas cariocas
Hermés Galvão
Editora Labrador, 128 páginas
À venda no Brasil e em Portugal e também disponível na Amazon
Preço: 20 euros
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