Destaque no Web Summit, brasileira lidera o debate sobre diversidade no trabalho
Empresária liderou painel sobre inclusão nas empresas ao lado de brasileira Luciane Barros
A irlandesa Bettirose Ngugi e as brasileiras Luciane Barros e Elisangela Souza lideraram painel sobre diversidade no Web Summit 2025. Crédito: Renan Araujo
O debate sobre a diversidade e a inclusão tomou conta do mundo empresarial nos últimos anos, especialmente com a difusão das práticas ESG, que levam em conta fatores ambientais, sociais e de governança.
Apesar disso, na prática a diversidade segue sub representada. Se as mulheres ganharam mais espaço no Web Summit, o mesmo não se pode falar sobre a presença de negros entre os painelistas.
Entre um dos poucos (e talvez únicos) painéis que contou com mulheres negras, uma brasileira se destacou ao liderar o debate e ao estar a frente de um importante movimento para a discussão sobre a importância da representatividade de diferentes públicos.
“A gente vai nos eventos e são sempre os homens que estão no palco e estão tomando as principais iniciativas. Temos um trabalho de formiguinha, de ampliar cada vez mais a participação das mulheres nos espaços de decisão e de protagonismo”, destaca Elisangela Souza.
A empresária brasileira foi uma das embaixadoras oficiais do Web Summit, realizado na semana passada em Lisboa e da iniciativa global Women in Tech, destinado a ampliar a participação delas no mundo da tecnologia.
Durante o evento, ela também organizou o painel “DEI & Belonging Meetup”, no espaço Community Space, que visou construir um espaço para discussões sobre diversidade e inclusão. O painel contou com a presença da também brasileira Luciane Barros e da irlandesa Bettirose Ngugi.
No Web Summit do Rio em 2025, Elisangela esteve envolvida com o “Black Women in Tech”, destinado apenas às mulheres negras do segmento.
IDE Social Hub
Elisangela é fundadora do IDE Social Hub, uma startup criada em 2022 em Portugal destinada a trabalhar a diversidade, a inclusão e a equidade nas empresas. A ideia veio de uma dor própria, quando relata ter sido praticamente dispensada de uma entrevista de emprego apenas pelo fato de ser negra.
“Eu achei que tivesse feito algo de errado porque é muito sutil essa questão da discriminação e da xenofobia. Mas ao conversar com uma amiga portuguesa entendi que a questão era a cor da pele”, ressaltou ela.
Em pouco tempo, ela já foi incubada pela Casa do Impacto e foi selecionada pelo Google como uma TOP 100 Women in Social Enterprise pela Euclid Network em 2023.
A empresa busca ser uma ponte entre as organizações — especialmente relacionadas com a tecnologia e com o mundo digital —, e mulheres, pessoas negras, pessoas com mais de 50 anos, com deficiências. Em suma, grupos que tradicionalmente “não têm oportunidades de chegar a essas empresas”.
O objetivo não é ser uma empresa de RH, mas sim uma consultoria para melhorar o ecossistema de trabalho.
“Não basta apenas promover a inclusão. Esse profissional precisa estar num ambiente saudável e seguro para que consiga ser retido, porque senão em seis meses a pessoa vai embora. Não é só cumprir a cota. É preciso haver uma sensibilização daquele local senão o talento se esvazia”, destaca a executiva.
Ela ressalta que, em Portugal, o debate sobre a inclusão de mulheres começa a ganhar mais espaço através de iniciativas como o Women in Tech, mas destaca que outros grupos seguem sendo deixados de lado.
“A etnia, por exemplo, não é uma questão, é um tema que realmente colocam para debaixo do tapete. Em relação às pessoas 50+, não há empresas fazendo programas de inclusão intergeracional”, lamenta.
Ela explica que há uma lei para a inclusão de pessoas com deficiência, mas que muitas empresas preferem nem mesmo seguir essas regras por precisar adaptar o ambiente de trabalho.
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Diversidade na Irlanda
Quem esteve ao lado de Elisangela no painel no Web Summit foi Luciane Barros, fundadora da My Tech Path, uma empresa de impacto social que visa facilitar as contratações de imigrantes, com foco especial nas mulheres, no mercado de trabalho de tecnologia na Irlanda.
A iniciativa surgiu após a própria Luciane enfrentar dificuldades para se colocar em empresas de sua área na Irlanda e ter que migrar para o nicho de Recursos Humanos, com foco na diversidade e inclusão.
“Existe a dificuldade natural de migrar para um país que não usa a mesma língua que a sua e também do fato deles não entenderem a formação no Brasil. Então é preciso educar e mostrar como é preciso se adaptar a esse mercado”, destaca.
Luciane afirma que procura adequar os imigrantes à nova realidade, com orientações que vão desde a cultura até a elaboração de um currículo, fortalecimento de habilidades técnicas e de postura em entrevistas, por exemplo.
Foco no público 50+
A jornalista e empresária Silvia Troboni também criou uma iniciativa, a consultoria Across the Seven Seas e faz parte da Associação Stop Idadismo, que visa lutar contra o preconceito e estimular as iniciativas para ampliar as oportunidades de trabalho para pessoas com mais de 50 anos.
Ela afirma que a discussão ainda é incipiente no mercado de trabalho português e reforça quais são os benefícios desse trabalho com o público em foco.
“Sabemos que as empresas que praticam a conexão entre gerações podem ser mais lucrativas e oferecer um melhor ambiente de trabalho para seus colaboradores”, enaltece.
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