Ju Bock leva arte têxtil brasileira a Lisboa com “Tramas em Movimento”
Artista brasileira apresenta exposição no Hotel Corinthia, em Lisboa, até 5 de dezembro
Artista têxtil brasileira Ju Bock, atualmente radicada em Cascais. Crédito: Divulgação.
A artista têxtil brasileira Ju Bock, atualmente radicada em Cascais, vem consolidando um percurso que une técnica ancestral e linguagem contemporânea.
Nascida no Rio Grande do Sul, em uma família de mulheres artesãs, ela cresceu envolta em fios, novelos e teares. A familiaridade com o trabalho manual, aprendido na infância, foi transformada, anos mais tarde, em expressão artística.
Hoje, suas criações refletem um mergulho íntimo em memórias afetivas, paisagens vividas e na relação sensível entre corpo, tempo e matéria. Representada pela Fema Gallery, a artista vem ganhando espaço no circuito internacional, com participação em exposições em Portugal, na Espanha e na ArtRio, uma das feiras de arte mais relevantes da América Latina.
É nesse contexto que Bock apresenta a exposição “Tramas em Movimento”, em cartaz no Hotel Corinthia, em Lisboa, até 5 de dezembro.
O conjunto revela tapeçarias compostas por lã, algodão e fibras naturais, que expõem texturas orgânicas e ritmos que evocam tanto paisagens geográficas quanto interiores. As obras sugerem a passagem do tempo como movimento contínuo — ora lento, ora ondulante — tal como a natureza, que se transforma sem perder sua essência.

Para a artista, ocupar esse espaço tem um significado que ultrapassa o âmbito expositivo.
“Durante muito tempo, essa técnica foi vista apenas como artesanato, mas hoje ganha reconhecimento como expressão artística contemporânea. Estar aqui é uma forma de honrar gerações de mulheres que transmitiram esses saberes e mostrar como eles dialogam com o mundo atual”, afirma, destacando o valor simbólico da arte têxtil entre o ambiente doméstico e o institucional.
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A seguir, a artista fala sobre suas memórias, processos e motivações, revelando que, antes de ser matéria, sua obra é, sobretudo, experiência vivida e compartilhada.
ENTRERIOS: Como foi o momento em que o tear se transformou em linguagem artística?
Ju Bock: O tear surgiu em um momento de calmaria, quando chegamos a Cascais, vindos dos Estados Unidos. Foi por meio dele que me redescobri. Transformei um hobby em profissão e encontrei um espaço para expressar minhas emoções e minha história.
ENTRERIOS: Você nasceu em uma família de mulheres artesãs. Que lembranças da infância retornam quando você cria?
Ju Bock: Lembro da infância cada vez que desfaço novelos de lã para fazer meadas. Eu ajudava minha mãe: ora fazendo o novelo, ora segurando a meada para ela enrolar. Esse gesto, que repito até hoje, me traz sensação de aconchego.
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ENTRERIOS: Suas obras são descritas como paisagens interiores e geográficas. Quais paisagens mais a inspiram?
Ju Bock: Minhas inspirações vêm das experiências vividas — dos lugares por onde passei, das visitas que fiz e dos momentos significativos. É a minha história contada em fios.

ENTRERIOS: Como nasce uma nova tapeçaria? O processo é planejado ou intuitivo?
Ju Bock: A tapeçaria nasce da vontade de registrar um sentimento ou um momento. As cores vêm depois, são elas que ajudam a contar a história. A construção é feita linha a linha, sem desenho prévio, mas sempre mantendo a ideia central e deixando os sentimentos fluírem.
ENTRERIOS: Se pudesse descrever seu trabalho em uma palavra, qual seria?
Ju Bock: Realização.
ENTRERIOS: O que você ainda busca descobrir através do tear?
Ju Bock: Quero alcançar o maior número de pessoas possível, emocioná-las, permitir que viajem comigo. Quando consigo conectar suas histórias às minhas obras, é mágico.
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