Bola de Berlim: por que este doce é a estrela das praias em Portugal?
O doce de origem alemã lembra o brasileiro Sonho e faz sucesso na versão portuguesa, generosa em recheios cremosos

A brasileira Maria Luiza Lisboa, de 9 anos, ama a "bolinha": “Meus sabores preferidos são de creme, Nutella e Kinder Ovo”. Crédito: Renato Velasco
Nada de milho na manteiga ou pastel frito na hora. Nas praias portuguesas, o verdadeiro clássico do verão é doce e atende pelo nome de bola de Berlim. A iguaria é uma instituição nacional: fofa, frita, polvilhada com açúcar e recheada (ou não, a depender do gosto do freguês) com um creme amarelinho feito à base de ovos. Irresistível.
A origem da bola tem sotaque estrangeiro: com o nome de berliner pfannkuchen, foi trazida da Alemanha por refugiados judeus durante a Segunda Guerra. Ao chegar em território português, ganhou nova cara: no lugar da geleia de frutas vermelhas, entrou o creme de ovos, como manda a tradição da doçaria conventual.
A bola de Berlim é como uma prima do doce sonho, sucesso no Brasil. Ambos são feitos com massas fritas e possuem recheios cremosos. A versão portuguesa conquista pelo tamanho generoso e pelo característico e marcante creme pasteleiro.

Não existe uma explicação exata para o fascínio pelas bolas de Berlim nas praias portuguesas, mas, dizem, a “culpa” seria da combinação do doce com o salgado do mar. Hoje, é uma tradição comparada ao mate com limão da orla carioca. “É deliciosa e não existe verão sem ela”, resume a portuguesa Joana Gonçalves.
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A pequena brasileira Maria Luiza Lisboa, 9 anos, fica atenta ao anúncio que ressoa nas areias: “Olha a boliiiinha, bolinha de Berlim”. Ela diz que passou a amar o doce desde que o experimentou. “Meus preferidos são de creme, Nutella e Kinder Ovo”, conta, empolgada.
Desde 2020 em Portugal, o construtor indiano Fatehjeet Singh considera a paixão pelo doce uma prova cabal de sua transformação em tuga (diminutivo de “portuga”, que, por sua vez, é reducionismo de português).
“Lá na minha terra não tem isso, não. Esse doce vai direto pra alma! A bola de Berlim de creme é a minha queridinha. Estou virando um ‘tuga’ de verdade”, diz, rindo.

Apesar de a versão com creme ser a clássica, a cada verão as marcas aproveitam para inovar e criar sabores fora da caixa. E, sim, a bola de Berlim também se gourmetizou.
André Carmo, dono da empresa Olha a Bolinha, faz sucesso na praia do Burgau, no Algarve. Oferece 25 sabores, entre eles maracujá, Ferrero Rocher e até o viralizado pistache de Dubai, novidade da temporada. Os doces são recheados na hora e custam entre 2 euros e 2,50 euros.
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Para Carmo, o segredo da excelência vai muito além do recheio. “A bola de Berlim tem que ser bem-cuidada. Tem gente que só quer faturar na praia e esquece do principal: cuidado e sensibilidade. Qualidade faz toda a diferença.” A dedicação deu resultado: em 2024, sua bolinha foi eleita a melhor do país numa votação da revista digital NiT.
Em Lisboa, a Berlineta é uma das lojas físicas mais famosas da iguaria— e o verão é, sem dúvida, a época mais movimentada e lucrativa. O fundador, Alessandro Luliano, defende que “a mistura do salgado, ao sair do mar, e o doce torna tudo mais interessante”.

Mas não são só os tugas que faturam no ramo. Em Carcavelos, o brasileiro Delei Monteiro, fundador da marca Delei na Praia, fez desse empreendimento o seu bem-sucedido trabalho. “Chego por volta das nove horas e só paro quando acaba o estoque”, conta ele, que vende entre 150 e 200 bolas de Berlim por dia, fazendo da praia uma mistura de sabor e negócio.
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