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A síndrome da saudade

Só nós, que falamos português, sabemos o verdadeiro significado da palavra saudade. Em nenhuma outra língua é possível descrever esse sentimento em apenas um vocábulo. E essa tristeza crônica, derivada de estar longe de suas raízes, muito comum entre migrantes, já tem designação: Síndrome de Ulisses ou Síndrome do Migrante com Estresse Crônico

Crédito: Felipe Cespedes/Pexels

Quem deu esse nome foi o psiquiatra espanhol Joseba Achotegui, em homenagem à figura mitológica de Ulisses, que, após a guerra de Troia, demorou 10 anos para regressar a casa, enfrentando inúmeras dificuldades e perigos.

Essa síndrome não consta no Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais (DSM-5) — a “bíblia” da psiquiatria — e, por isso, ainda não é considerada uma doença mental. Mas muitos especialistas já admitem que o termo define um estado clínico que afeta migrantes e refugiados, podendo causar grande sofrimento.

Isso acontece especialmente quando se deslocam sozinhos, com poucos recursos, e encontram no país de acolhimento condições de vida duras e instáveis.

As queixas mais comuns são tristeza, ansiedade e isolamento social.

LEIA TAMBÉM: Saúde mental: o poder da empatia geracional

Para aliviar esses sintomas, pode-se buscar apoio psicológico ou psiquiátrico, mas grande parte do tratamento depende da força interna de cada um.

“Para combater a solidão, é fundamental procurar uma rede de apoio, manter contato com familiares e amigos, buscar atividades que o conectem a conterrâneos e à sua identidade e integrar-se à cultura local para criar uma nova sensação de pertencimento”.

Sabemos que incorporar novos hábitos, perder status pessoal e profissional, e ficar longe do que e de quem gostamos é muito difícil, mesmo quando acreditamos estar mudando para um lugar melhor.

Procurar uma rede de apoio é fundamental para combater a solidão inicial, manter contato regular com familiares e amigos e procurar atividades que o conectem a conterrâneos e à sua identidade também pode atenuar os efeitos da mudança.

Paradoxalmente, integrar-se à cultura local também é muito importante para criar uma nova sensação de pertencimento.

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Segundo o Relatório Mundial sobre Migração de 2024, estima-se que existam cerca de 281 milhões de migrantes, 3,6% da população global.

Os migrantes já não são minoria. E, ainda que por curtos períodos, quase todos já passaram pela experiência de sair da zona de conforto.

Mais do que encarar a Síndrome de Ulisses como uma patologia, podemos nos inspirar no próprio mito:
o poder da resiliência e o desejo de um dia voltar para casa.

Emigrar não é luto. Não é ficar viúvo, é apenas uma separação, e, querendo, pode até ter volta!

Até lá, o mais importante é viver bem no lugar que elegemos como lar, e ele é sempre, geograficamente, onde nos encontramos no aqui e no agora!

*Susana Gaião Mota é autora dos livros As dúvidas dos 30, Sobre(viventes) e Mover o pensamento.

Esta coluna é parte da quinta edição da revista EntreRios, disponível nas principais bancas. Você também pode assinar e receber a publicação no conforto da sua casa.

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