Paulinho da Viola celebra o samba e a vida em turnê por Portugal
O mestre do samba revisita memórias, ídolos e canções em turnê por Portugal, reafirmando que o samba continua sendo o grande guia da sua vida

Entre o violão e a poesia Paulinho da Viola segue encantando o público com sua elegância e serenidade musical. Crédito: Marcos Oliveira
Aos 82 anos e com seis décadas de carreira, Paulinho da Viola desembarca em Portugal com o espetáculo “Quando o Samba Chama”, revisitando sucessos que marcaram gerações. O cantor e compositor se apresenta no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no dia 29 de outubro, e na Casa da Música, no Porto, no dia 1º de novembro. Ainda há bilhetes!
Em entrevista a EntreRios, o artista refletiu sobre o significado do samba em sua trajetória:
“Os sambistas sempre tiveram o samba como referência maior da vida. É como se o samba fosse um espelho da gente”, afirmou.
Paulinho explica que o título do novo show tem um duplo sentido: é sobre o chamado do samba, mas também sobre o ato de compor: “Quando o samba chama, é como se fosse uma briga comigo mesmo. É aquele momento em que você tenta encontrar a canção certa, o verso que falta. É o próprio coração provocando sobressaltos”, contou.
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O repertório traz clássicos como Foi um Rio que Passou em Minha Vida e canções que dialogam com a natureza e o cotidiano, como Amor à Natureza, composta nos anos 1970 após o artista ler uma charge crítica do cartunista Jaguar.

Paulinho da Viola é produtor musical, cantor, compositor e um dos maiores representantes do samba e do choro brasileiros. Multi-instrumentista — violonista, cavaquinista e bandolinista —, é reconhecido mundialmente por suas harmonias refinadas e pela voz suave que se tornou marca registrada de sua obra.
Baluarte da Portela, da qual é fundador e integrante da Velha Guarda, Paulinho também é um de seus mais respeitados compositores.
Ao longo da carreira, lançou 18 álbuns de estúdio, diversos registros ao vivo, e teve suas canções reinterpretadas por nomes como Marisa Monte, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Jards Macalé, Zizi Possi e Grupo Raça.

Nesta entrevista o sambista recordou ainda suas origens em Botafogo e a descoberta da Portela, escola que se tornaria símbolo de sua vida artística: “Em Vila Valqueire, onde minha família morava, eu ouvia os ensaios da União de Jacarepaguá. Depois fui à Portela, e o samba foi me levando. Foi um chamado natural”, disse, rindo.
O amor pela Portela e pelas tradições do samba se reflete não apenas em suas composições, mas também em gestos simbólicos nos palcos: “Entro no show com uma caixa de fósforos, como faziam Zé Kéti e Elton Medeiros. É um símbolo da simplicidade e da essência do samba”, explicou.
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Entre lembranças e referências, Paulinho não esconde a admiração por Pixinguinha, a quem chama de “gênio maior da música brasileira”.
“Em 1917, Pixinguinha compôs Carinhoso e teve medo de mostrar, achando que parecia música estrangeira. Cem anos depois, todo mundo ainda canta. Isso mostra o tamanho dele”, destacou.

O artista também relembrou a convivência com o pai, o violonista César Faria, e mestres como Jacó do Bandolim e Ciro Monteiro: “Cresci ouvindo os grandes da Era de Ouro. Isso me formou e me acompanha até hoje”. Fora dos palcos, o cantor revela um lado curioso: o de marceneiro:
“Sempre tive habilidade com as mãos. Fiz armários, prateleiras, aprendi com um português, o mestre Abílio”, contou emocionado, ao recordar o reencontro com o antigo professor, décadas depois, em uma casa de repouso em Curitiba.
Com serenidade e humor, Paulinho encerra dizendo que, apesar do tempo e das mudanças, o samba continua sendo sua bússola:
“O Brasil é um país único, com uma riqueza musical que nem nós mesmos conhecemos. E enquanto o samba chamar, eu atendo”, diz Paulinho da Viola.
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