Luana Piovani: uma mulher poderosa aos ‘quase 50’
Em entrevista exclusiva à EntreRios, Luana Piovani fala sobre ativismo, carreira e como vive os “quase 50” em Cascais

A atriz brasileira Luana Piovani celebra 35 anos de carreira e fala sobre novos projetos. Crédito: Renato Velasco.
“ELA É DO TIME DAS MULHERES QUE NÃO PARAM DE LUTAR. DAS INSUBMISSAS, DO FRONT”.
Essas são frases de um poema da pernambucana Luna Vitrolira que Luana Piovani recita no início de seu monólogo, Os cantos da Lua, que faz sua segunda temporada em turnê por Portugal. Não à toa a frase foi escolhida.
A atriz é, hoje, uma poderosa caixa de ressonância: em apenas uma rede social, tem mais de cinco milhões de seguidores e consegue reunir 15 mil assinaturas em três dias para um manifesto, após divulgar um vídeo de dois minutos e meio sobre agressão a mulheres. “Hoje eu sei o poder que tenho. E uso”, diz.
No espetáculo, a artista costura histórias hilariantes com músicas marcantes em sua vida. Luana surge sensual com roupa brilhante e botas altas que alongam ainda mais seu 1,78m de altura. A atriz comemora 35 anos de carreira e “quase 50” de vida com maturidade e linda como sempre.
Esta entrevista exclusiva foi dada à EntreRios em sua casa, em Cascais, na região metropolitana de Lisboa, onde falou sobre ativismo político e feminismo nas redes sociais, planos para o verão, menopausa, relacionamentos, sexo e criação dos filhos. Ela é mãe de Dom, de 13 anos, Bem e Liz, de 10 anos.
Em 2026, Luana completa 50 anos de vida e, além da festa, vai marcar a data com um livro de fotos, uma biografia e o retorno à Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, desfilando na escola de samba Salgueiro, no próximo carnaval.
Com a maturidade, você tem falado mais, se exposto mais. Isso é novo em sua vida?
Sempre entendi que eu tinha voz, e utilizei. Mas agora percebi que tenho, também, poder. Até porque, acho que isso tem a ver com a sabedoria que a idade traz. Vou fazer 49 anos, ou seja, estou com quase 50, beirando meio século de vida, e entendendo que potência é essa. Vejo a vida com outros olhos, o país com outros olhos. Pago imposto de renda há 35 anos, já vi presidentes caindo, voltando, governadores sendo presos. Isso é experiência de vida.
Você abraça causas, como as que defendem mulheres e crianças. Percebe o impacto na vida das pessoas?
É muito importante o que tem acontecido, muitas mulheres estão gritando, e estamos todas descobrindo a nossa voz e começando a utilizá-la. Parece que o mundo está entendendo qual é a realidade, e que ela é bastante chocante.
Em paralelo, ainda não vejo muitas mudanças porque elas só vão acontecer quando o homem mudar de atitude. Enquanto isso, nós mulheres continuaremos sendo assassinadas – porém, agora, aos berros.
Somente em uma rede social, você tem mais de cinco milhões de seguidores. É um enorme canal para “berrar”.

E vou te dizer, não são só cinco milhões de seguidores nessa rede; é muito mais. E, também, não se conta só quem me segue porque a minha voz ecoa além dos cinco milhões que estão me acompanhando.
É o poder que eu tenho hoje no meu país. Tenho governadores, juízes, ministros, seguidores que, realmente, mudam e/ou podem mudar as coisas que escutam em minhas redes. Quando você vê a enorme repercussão de uma tentativa de privatização das praias no Brasil (em maio do ano passado, ela viralizou nos stories e posts com um vídeo acusando Neymar por supostamente apoiar a chamada PEC da privatização das praias; ele processou-a).
Aqui em Portugal, por exemplo, a divulgação e a conquista de 15 mil assinaturas em três dias depois que fiz um vídeo de dois minutos e meio falando da violência que mais abrange esse país, que é a agressão a mulher. (Luana usou as redes sociais para angariar assinaturas online, numa campanha feita por Francisca de Barros, ativista e vítima de violência, a favor de mudanças legislativas em Portugal na lei de proteção às mulheres).
Ao focar suas histórias de vida na concepção do atual espetáculo, você fez uma ‘sessão de terapia’?
Antes tivesse sido só uma… Eu teria economizado dinheiro. Acho que, na verdade, como é a celebração desses meus 35 longos e muito bem contados anos de carreira, eu acho que é todo o meu processo terapêutico também.
Que a gente pode, resumidamente, dizer que foram 10 anos de consultório junguiano e 17 anos de psicanálise. Dei uma parada e nunca mais tive ‘folga’. Hoje, entendo que faço análise comigo mesma. É quase como se eu tivesse introjetado a minha psicanalista.
Por que escolheu comemorar no palco?
É fácil de entender e, ao mesmo tempo, pode não ser. Eu amo o ser humano, e o palco traz o que é mais humano na gente, que são as nossas fraquezas, histórias, a magia do cotidiano sendo contada e reconhecida. Então, meu amor pelo palco é o amor pela história da humanidade. O teatro, para mim, é um milagre que cura.
“Foi tudo meio bruto porque eu tive uma menopausa muito precoce. Então, não entendi que aquilo era uma pré-menopausa aos 44 anos de idade, e foi. Era um calor eventual durante a noite e sintomas que não soube avaliar.”
Como se mantém sempre bonita? Botox, estimulação de colágeno?
Na verdade, o (dermatologista) André Braz faz tudo e o resultado é esse: estou aqui com uma cara boa, natural, mas eu tô toda feita e preenchida. Só pra gente deixar claro.
Isso é harmonização facial, muito diferente do que fazem por aí, que é, muitas vezes, uma desarmonização. Tem uma grande diferença. A harmonização tem as rugas, tem as marquinhas. A face só está melhorada, melhor cuidada para os quase 50 anos.
Sexo tem melhor hora?
Depende da época. Se é um amor antigo no qual a minha libido já está num lugar mais calmo, eu prefiro à noite porque consigo ritualizar melhor. Agora, se o negócio é fresco e a gente não está com problema de libido, aí no amanhecer é incrível.
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Como foi a chegada da menopausa?
Foi tudo meio bruto porque eu tive uma menopausa muito precoce. Então, não entendi que aquilo era uma pré-menopausa aos 44 anos de idade, e foi. Era um calor eventual durante a noite e sintomas que não soube avaliar. Até que, aos 46 anos, o ‘bicho pegou’ quando fazia uma novela chiquíssima, maravilhosa, era a vilã toda trabalhada no terno de microfibra, blusas de seda, pérola e, de repente, vinha aquela labareda, não conseguia ver nada na minha frente.
A gente desconcentra de uma maneira inenarrável. Você não consegue fazer mais nada que estava fazendo, tem que parar. Liguei para a minha médica e ela me receitou o gel que uso até hoje, e estabiliza. Não é porque sou forte, é porque eu dou o meu jeito, sabe?
Eu viro a mesa, não permito que as coisas me deixem num lugar ruim. Vou atrás do caminho para transformar algo ruim em bom. Com a menopausa tem sido assim também.

Os sintomas melhoraram?
Eu tenho esquecimentos, mas isso sempre fez parte de mim. Não dá para associar a sintomas. Meu apelido sempre foi Dory (a personagem esquecida do filme Procurando Nemo). Já não sei mais o que é da menopausa ou do meu próprio ‘HD’. Sempre fui esquecida.
Que momentos marcantes destaca em sua carreira?
Eu acho que tem alguns espetáculos teatrais que são muito importantes na minha vida. Como a minha primeira produção teatral, Amigas, o monólogo que fiz com 31 anos de idade. Tem uns filmes que são importantes também, como O Homem que Copiava e A Mulher Invisível. No programa Tudo de Bom, da MTV, eu estava com 24 anos e no ápice da ousadia mesmo.
Quando eu vejo que entrevistei o (jornalista e produtor) Nelson Motta em Nova Iorque, a cantora Marisa Monte… O pior é que não tenho acesso a isso tudo, porque está parado lá no processo da MTV (encerrou as atividades em 2013, e o acervo da emissora, com mais de 32 mil fitas, ficou sem acesso público).
Tenho algumas poucas coisas em VHS que consegui transformar, e assisto. Ainda tenho a entrevista que fiz com a Daniela Mercury, com o Vik Muniz, com o David Byrne.
Como é seu processo de criação?
Todas as pessoas que me chamaram para projetos e que toparam fazer trabalhos comigo entenderam que as coisas todas têm que passar pelo meu viés de vida para que eu tenha paixão.
Para que, então, eu possa oferecer e realizar tudo com criatividade. Eu sou curiosa, interessada, e o público gosta desse meu jeito porque se vê representado.
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Quais são os seus planos e sonhos para os próximos trabalhos?
Ah, são vários. Eu tenho muita vontade de fazer um clássico no teatro – o que nunca fiz. Eu adoro rádio. Tenho muita vontade de fazer uma personagem nordestina e de ter um programa aqui em Portugal, mas falta coragem ao pessoal, né?
Já ofereci para o a Opto (plataforma de streaming da TV SIC). Mas eu acho que é preciso tempo, só tem seis anos que eu cheguei.
Você está em algum relacionamento?
Não! Solteiríssima.
E sua relação com os aplicativos de relacionamento?
Continua completamente morta. O meu aplicativo é internacional. Então, eu me comunico com gente do mundo inteiro. Homens da Austrália, do Texas… Mas, obviamente, também em Portugal. Porém, entretanto, todavia, em Portugal, acho que, se não me falha a memória, tenho uns três homens no aplicativo.
Que aplicativo é esse?
Chama-se Raia (conhecido como Tinder de milionários e famosos). É um bem exibido, assim… É quase a Bolsa de Valores (risos) mas não tem acontecido muita coisa. É bom quando vai para Paris, Londres, cidades nas quais o “mercado”é bem cheio.
Mas o mercado para a Luana Piovani deve ser “bem cheio”.
Olha, não é assim, não. Realmente, as vacas estão bem magras porque homens heterossexuais interessantes são muito difíceis. Os novinhos não têm nada na cabeça. Os da minha idade estão com a forma física jogada no lixo. E os que são educados, sorridentes, bem vestidos, bem cuidados, são gays. Então, fica difícil.
Ou seja, está difícil para a mulher heterossexual?
Mas é interessante porque tem uma hora em que você está com tanta fome, que a fome passa. Transcende. Eu tô nesse momento, anestesiada. Passou.

Como é ser mãe de adolescente?
Meu filho ficou pré-adolescente aqui, na minha casa (em Portugal), e foi muito difícil. Especialmente porque ele, como quase todo filho, quase toda criança, sabia exatamente o que fazer para conseguir o que queria.
Filhos são bastante manipuladores. Ele só passou dois anos da pré-adolescência aqui e foi para o Brasil. Está, agora, com o pai, e eu sou mãe de férias. Então, tenho pouco problema. Eu chego só para comer o hot dog, tomar a cervejinha do aniversário.
Há diferença entre ser mãe de menino e de menina?
O que acontece é que o mundo é muito machista. Independentemente do modelo que você tem em casa e que, obviamente, interfere muito, o mundo que eles vêem na televisão e nas redes sociais, acaba ‘educando’ porque é um modelo.
Os meninos tendem a ficar levemente machistas de início. Daí você tem que começar a desfazer esse movimento que o habitat está gerando. Sob a minha ‘administração’, eu consigo gerir melhor.
Com o meu filho adolescente, que está morando no Rio, é mais difícil, até porque é um lugar muito sexualizado, que faz com que seja muito machista. Ainda tem muita ostentação porque o Brasil é bastante influenciado pela América do Norte e é muito cópia dos Estados Unidos, onde tudo gira em torno de status e marca, lógico.
Como está a sua vida em Portugal?
Plenitude é a palavra. Eu estou nesse lugar, graças a Deus, de mais entendimento. Um pouco menos de ansiedade mas, ainda assim, muito ansiosa.
Porém, já consigo organizar isso melhor. Consigo segurar mais os ‘cavalos’, digamos assim. Então, estou vivendo hoje. E, olha, nisso está a cura. Da ansiedade, da depressão, tudo cura quando você consegue estar no momento presente.
Planos para o verão?
Sim! Esse ano, por incrível que pareça, senti vontade de ir para os Estados Unidos, apesar de estar com ‘nariz torcido’ para aquele país. Mas eu vou porque tenho um apartamento em Nova Iorque e, acho, até dezembro ele deve ser vendido. Verãozão em Nova Iorque!
Devo ir para Ibiza, Croácia e, em setembro, Fernando de Noronha, como todo ano. Em agosto eu volto para a Europa, e vamos comemorar os 70 anos da minha mãe com uma viagem de trem, que é o sonho dela.
Confira a entrevista completa no canal da EntreRios no YouTube
Esta entrevista é parte da primeira edição da revista EntreRios, distribuída nas principais bancas de Portugal. Você também pode assinar e receber a publicação no conforto da sua casa, além de ler a publicação completa.
Agradecimento: Rodrigo Nabarros / Sea Agency
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