Conheça a verdadeira história de “Rabo de Peixe”
A série portuguesa da Netflix transforma o naufrágio de 2001, nos Açores, num thriller eletrizante sobre ambição, amizade e as consequências de um acaso que mudou uma vila para sempre
O protagonista da série, José Condessa, e o autor, Augusto Fraga. Crédito: Divulgação
Em 2001, a pacata freguesia de Rabo de Peixe, nos Açores, viveu um dos episódios mais surreais da história recente de Portugal. Numa noite tempestuosa de junho, um veleiro que transportava cerca de 500 quilos de cocaína naufragou ao largo da ilha de São Miguel.
O veleiro, vindo da Venezuela e com destino à Espanha, enfrentou uma tempestade que partiu seu mastro e obrigou a tripulação a ancorar próximo à Ilha de São Miguel, nos Açores. Na tentativa de esconder a carga numa gruta próxima a Rabo de Peixe, o mar acabou por arrastar os pacotes até a praia, espalhando a droga pela costa.
As autoridades recuperaram oficialmente 400 quilos, embora muitos duvidassem desse número, já que o barco tinha capacidade para transportar até três vezes mais. Mesmo considerando a estimativa oficial, o carregamento teria hoje um valor de mercado superior a 50 milhões de euros.
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As ondas acabaram por trazer à costa dezenas de fardos da droga, que rapidamente foram recolhidos pelos habitantes locais, muitos sem perceber exatamente o que tinham encontrado. O acontecimento transformou radicalmente a vida de uma das comunidades mais pobres do país.
A chegada inesperada da cocaína gerou uma onda de curiosidade, ganância e tragédia. Enquanto alguns moradores tentaram lucrar com a venda da droga, outros cederam à tentação de consumir.
O resultado foi devastador: um aumento súbito nos casos de overdose, internamentos e dependência química que marcaram a região por anos. Rabo de Peixe, até então uma vila de pescadores, tornou-se sinônimo de um escândalo nacional que expôs a vulnerabilidade social e econômica dos Açores.
Após semanas de buscas, a polícia encontrou no porto de Ponta Delgada um pacote de cocaína que ligava diretamente o iate de um siciliano chamado Antoni Quinzi ao carregamento encalhado em Rabo de Peixe.
Preso como principal suspeito, Quinzi protagonizou uma fuga cinematográfica ao escapar da prisão dez dias depois, acenando para os guardas e fugindo numa Vespa, mas acabou recapturado e cumpriu pena em Coimbra.
Foi este episódio real que inspirou “Rabo de Peixe”, a série portuguesa da Netflix criada por Augusto Fraga. Misturando fatos verídicos e ficção, a produção transforma o naufrágio de 2001 num thriller policial sobre jovens que veem na droga uma oportunidade de escapar à pobreza mas acabam enredados num perigoso jogo com traficantes e autoridades.
Na primeira temporada, lançada em 26 de maio de 2023, a série reinterpreta uma história trágica com ritmo, humor e crítica social, mostrando como um acontecimento improvável mudou para sempre o destino de uma pequena comunidade açoriana.
A segunda temporada estará disponível nesta sexta (17). No Brasil, a série é intitulada “Mar Branco” e, agora, os eventos de sua nova temporada, com seis episódios, acontecem três meses após os anteriores. Rabo de Peixe 2 promete repetir (ou superar) o sucesso da primeira parte, que chegou à plataforma em maio de 2023 e rapidamente entrou no Top 10 global da Netflix em mais de 30 países.
